5 anotações em Karl Ove Knausgård sobre vida e tempo
Atualizado: 28 de jun.
A passagem do tempo, juventude e envelhecimento, sonhos e vida real: anotações dos cinco primeiros livros do norueguês Karl Ove Knausgård
"Quando completei 24 anos, tive um insight: aquela era a minha vida, era assim que ela era e provavelmente assim seria até o fim. A época de estudante, período tão lembrado durante a vida, do qual sempre nos recordamos com alegria, para mim não passou de uma sequência de dias solitários, tristes e imperfeitos. O fato de eu não ter percebido isso antes se devia à esperança que residia em mim, todos os sonhos ridículos que pode ter um garoto de vinte anos, sobre mulheres e amor, sobre amigos e felicidade, sobre talentos ocultos e sucesso repentino. Mas, quando fiz vinte e quatro anos, eu passei a ver a vida como ela era. E a vida era ok, eu também tinha minhas pequenas alegrias". - em Minha Luta 1 - A Morte do Pai
"Aos 40 anos a vida até então vivida, sempre de maneira provisória, tornava-se a própria vida, e essa ocorrência acabava com todos os sonhos, destruía todas as esperanças de que a verdadeira vida, a vida desejada, com todas as coisas grandiosas que as pessoas sonham em fazer, estivesse em outro lugar. Ao completar 40 anos as pessoas compreendiam que tudo estava aqui mesmo, em tudo que há de pequeno e cotidiano, já pronto, e que assim seria durante todo o tempo futuro, a não ser que uma atitude fosse tomada". - em Minha Luta 2 - Um Outro Amor
"É claro que eu não me lembro de nada dessa época. É totalmente impossível para mim identificar-me com o bebê de colo que os meus pais fotografaram, na verdade é tão difícil que parece até errado usar a palavra 'eu' para falar dele, em cima do trocador, por exemplo (...). Será que aquela criatura é a mesma que agora está em Malmö escrevendo estas palavras? E será que a criatura que está em Malmö escrevendo estas palavras, aos quarenta anos, num dia encoberto de setembro em um cômodo repleto de murmúrio do tráfego no lado de fora e do vento de outono que uiva no antigo sistema de ventilação, há de ser o mesmo velho grisalho e encolhido que daqui a quarenta anos talvez vá estar tremendo e babando em uma casa de repouso no meio das florestas suecas?" - em Minha Luta 3 - A Ilha da Infância
"Hoje é dia 25 de novembro de 2009. Os meados da década de 1980 estão distantes tanto quanto a década de 1950 estava naquela época. Mas quase tudo nessa história ainda está por aí. (...) Em meio às coisas que meu pai deixou para trás estavam três cadernos de anotações e um diário. Ao longo de três anos ele registrou os nomes de todas as pessoas que havia encontrada pessoalmente, de todas as pessoas para quem havia telefonado, todas as vezes que fez sexo e também o quanto havia bebido. Às vezes havia um breve resumo de uma situação qualquer, mas na maioria dos casos não. Encontrei várias anotações que diziam 'Visita de K. O'. Era eu. Às vezes havia uma anotação de 'K. O alegre' depois que eu tinha ido embora. Às vezes 'Conversa bem-sucedida'. Às vezes 'Clima razoável'. Às vezes nada. Entendi por que ele anotava o nome das pessoas que encontrava e com as quais conversava ao longo do dia, e também por que registrava todas as brigas e todas as reconciliações, mas não entendi por que anotava o quanto bebia. Era como se estivesse escrevendo a crônica da própria queda". - Minha Luta 4 - Uma Temporada No Escuro
"Clarões súbitos de alegria lampejaram o dia inteiro dentro de mim. Tinha acontecido uma coisa incrível. Mas o que era? Nada tinha acontecido. Tínhamos conversado um pouco, nada mais. (...) Eu nunca tinha sentido nada parecido com o que eu sentia naquele momento. Nunca, jamais havia chegado perto daquilo. (...) Foi um desses pensamentos que mudam tudo. Um desses pensamentos que surgem de repente e colocam tudo no devido lugar. Era um pensamento carregado de futuro e de sentido. Justamente o que me faltava, e o que havia me faltado por muito tempo. Futuro e sentido". - Minha Luta 5 - A Descoberta da Escrita
*ainda lendo Minha Luta 6
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