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  • Guilherme Dearo

Inadvertido: 10 olhares de Karl Ove Knausgård sobre literatura e escrita

Atualizado: 28 de jun.

Anotações do escritor norueguês Knausgård em Inadvertent, em tradução livre


A série "Why I Write" faz parte do The Windham-Campbell Prizes e surge a partir das lectures dadas anualmente para comemorar os prêmios literários de Yale. O autor homenageado é convidado a produzir um ensaio sobre literatura e processo de escrita. Este, de 2017, é do escritor norueguês Karl Ove Knausgård, autor da série "Minha Luta", da qual já falei aqui.



Alguns trechos repletos de grandes ideias para escritores e leitores:


1. "Tão importante quanto o que a forma permite o escritor dizer é o que ela não permite ele dizer".


2. "Preocupar-se com o que os outros vão pensar, se isso é bom de alguma forma ou não, toda crítica e autocrítica, todas essas reflexões e todos esses julgamentos devem ser postos de lado para que a verdade se desenvolva. Assim, escrever deve ser um ato franco e inocente. Mas, para que algo surja dessa franqueza e inocência, para emergir e se tornar acessível, deve haver limitações, e a isso damos o nome de forma".


3. "Eu escrevo porque vou morrer. (...) Isso é escrever: criar um espaço onde algo pode ser dito".


4. "(...). Agora eu vejo o jeito de Proust de integrar ação e reflexão; seu conceito de metáfora, onde ela abre espaços paralelos no texto e cria um novo mundo ao redor do protagonista. (...) Criar um espaço ficcional requer ou uma grande força, ou uma grande ignorância".


5. "Há algumas regras fundamentais da escrita, por exemplo a de que um escritor não deve psicologizar quando descrever personagens, ou o saber relacionado a este que diz 'Mostre, não diga', ambos oriundos da ideia de que a literatura, por sua natureza, sempre busca complexidade e ambiguidade, e afirmações monolíticas de verdades sobre o mundo são antiliterárias".


6. "Linguagem e forma literárias contêm em si uma distância, tornando impossível penetrar nelas completamente ou eliminar o seu espaço em absoluto. Toda linguagem cria uma sombra, e essa sombra pode ser mais ou menos apreendida, mas nunca controlada. (...) Só depois de eu entender isso, que a distância da forma e da linguagem cria um espaço no qual posso me colocar, onde eu perco o domínio e o controle e onde o que eu era se transforma em 'eu', só assim me torno um escritor".


7. "Isto é que eu venho buscando. Isto é escrever. Perder vista de si, e ainda assim usar a si, ou aquela parte de si que está além do controle do seu ego. E então ver algo estranho surgir na página bem na sua frente".


8. "Escrever é justamente sobre desconsiderar como algo em particular é percebido aos olhos dos outros (...). Escrever é sobre tornar algo acessível, permitir que esse algo se revele por si mesmo".


9. "O primeiro método, ficar parado esperando que as coisas venham e se revelem acessíveis ao meu olhar, é o modo do romance de pensar, enquanto que o outro, inadvertidamente trombar com uma dessas coisas no escuro e dar um chutão nela, é a lógica dos poemas ou dos contos. Em ambos os casos, isso acontece de maneira inadvertida - não importa se é o escritor ou se é sobre o que ele está escrevendo que chega sem intenção, porque se o escritor pensa sobre como aquilo será visto pelos outros, se pensa se aquilo é ou não importante, se é bom o suficiente, se ele começa a calcular e a fingir, então a coisa não é mais inadvertida e acessível em si (...)".


10. "O problema de um ensaio como esse é que se eu focar em seu primeiro objetivo e falar sobre as razões particulares para escrever, as quais têm a ver com o desejo de ser visto, de ser alguém, com o desejo e ambição de ter sucesso, eu parecerei autocentrado, raso e um tanto estúpido, enquanto que se eu focar nos outros dois objetivos, o lado existencial de escrever e a função social da escrita, eu serei visto como pretensioso, presunçoso, e talvez megalomaníaco".


O livro: "Inadvertent", Karl Ove Knausgård. Yale University Press, 2017. A versão em inglês foi traduzida do norueguês por Ingvild Burkey.


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